A chegada de uma criança no ambiente escolar é um evento importante e marcante não só para ela, mas também para sua família, para os educadores e para as demais pessoas que farão parte de sua rotina dali para frente.
Envolve expectativas, histórias e sentimentos. É um processo de mudança e renovação que demanda preparo, confiança e paciência por parte das famílias e, principalmente, da escola.
O período conhecido como adaptação é um momento em que a criança e sua família passam a criar relações afetivas com um novo grupo social: a escola – e, como tudo que é novo, pode desencadear sentimentos de medo, angústia e insegurança. Como facilitar esse processo, promovendo sentimentos agradáveis de segurança e bem-estar para que a criança possa iniciar a aprendizagem formal de maneira prazerosa?
A CRIANÇA
A separação de alguém que se ama desperta sentimentos fortes de angústia, medo e insegurança, principalmente nos pequenos. É normal que expressem esses sentimentos na medida em que se separam de suas mães. O choro, gritos, tristeza, acessos de raiva, agressividade e até “dores” inexplicáveis são alguns dos possíveis “sintomas” da adaptação. A presença dos pais na escola por um período de tempo e a rotina escolar estabelecida progressivamente ajuda a criança a familiarizar-se com o novo ambiente, envolver-se com a nova rotina e afeiçoar-se a seus professores
Apesar de parecer um episódio negativo, a separação momentânea fortalece os laços familiares e o desenvolvimento emocional. A criança adquire confiança em si e nos adultos que a cercam na medida em que verifica que existe uma rotina diária saudável: ela é esperada, cuidada, amparada, depois retorna ao lar. Para isso, a postura calma e segura dos pais e educadores é fundamental, pois não existe um prazo certo para o processo de adaptação terminar. Para umas, o processo é difícil e demorado. Para outras, é rápido e tranquilo.
Quem poderia ajudar, então?
O adulto é quem ensina, pelo exemplo, a criança a distinguir o que é bom do que não é, o que é arriscado do que é seguro. Se a criança perceber qualquer sinal de hesitação, medo e insegurança nos pais, instintivamente entenderá isso como um sinal de perigo e lutará para proteger-se. Testará a certeza de seus pais até ficar convencida de que eles realmente sabem o que estão fazendo.
OS PAIS
Os pais ocupam papel importantíssimo nessa experiência e devem dar todo apoio, interesse, ajuda e motivação. Mas a separação não afeta somente as crianças, os afeta também. A criança começa a perceber-se independente de sua mãe, e esta terá um sentimento de perda. Na maioria das vezes, o início da vida escolar é o motivo da primeira grande separação do filho e as mudanças que isso acarreta geram certo desconforto.
Compreender, discutir e superar gradativamente esses sentimentos permite um amadurecimento da relação familiar e possibilita à criança experimentar uma “independência” importante para seu desenvolvimento. Ter em mente que a adaptação, por mais dolorosa que seja, por mais tempo que leve (se é que levará algum tempo), é temporária, passageira, não dura para sempre.
Minimizar o impacto negativo desse momento particular da vida das crianças e de suas famílias tornando a escola um ambiente mais saudável e confiante é um dos papéis da escola. Ser aberta e disponível são fatores fundamentais para o sucesso da adaptação. Planejar esse momento, dar a ele especial importância, reconhecendo o valor da ligação entre pais e filhos revela um ponto de vista humanista acerca da entrada da criança na escola e de sua permanência nela.
A função da escola e dos profissionais é de receber a criança e para isso é necessário um trabalho cuidadosamente planejado. O colégio é um ambiente seguro, com um espaço que propicia o desenvolvimento e uma aprendizagem significativa. A parceria com as famílias, construída em reuniões coletivas e individuais, ajuda a estabelecer uma relação de confiança e afetividade que, por sua vez, vai corroborar com a efetivação da adaptação.
A professora aparece como uma mediadora principal no contexto da adaptação à vida escolar. E assim, como as crianças e os pais, nesse momento, ela também passa por um processo de adaptação, pois a cada ano que se inicia novas experiências, novas crianças, novos pais serão conhecidos. As expectativas são muitas e as surpresas, inimagináveis
DICAS PARA AS FAMÍLIAS
1- O ingresso na escola não deve coincidir com outros acontecimentos ou mudanças significativas na vida da criança.
2- De preferência, a adaptação deve ser gradual.
3- Seja honesto com a criança. Despeça-se dela ao sair para que ela não se sinta abandonada. Converse muito com ela.
4- À família cabe o papel de estabelecer limites, dar noções de autoridade, estimular a convivência, não prometer recompensas ou mentir para a criança, como por exemplo, dizer que vai até o banheiro e desaparecer.
5- O sucesso da adaptação depende muito da atitude e do estado emocional da mãe. A ela, cabe estimular a criança com comentários positivos e mostrar-se o mais segura possível.
6- Não se atrase para buscar a criança, principalmente nos primeiros dias.
7- A criança deve sentir que a escola é um ambiente que oferece carinho, afeto e segurança, semelhante ao que recebe em casa.
8- A professora é uma pessoa fundamental nesse momento da vida da criança. Fortaleça o vínculo e converse muito com ela para dar informações sobre seu filho.
9- Deixar que a criança leve para a escola um brinquedo querido ou objeto especial pode servir de referência para que ela compreenda que nem tudo é estranho no novo ambiente.
10- Nunca compare a criança com um coleguinha que apresenta um comportamento mais tranquilo frente ao processo de adaptação.
11- Nunca tente trazer todas as informações sobre a rotina da criança para a professora na frente dela, isso pode constrangê-la.
Denise Desiderá